Um domingo na Volta do Américo

Era domingo, dia 13 de março, fui convidada para um café da manhã na comunidade Volta do Américo, zona rural do município de Lençóis, Chapada Diamantina, Bahia. Chegando lá, na animação daquele café farto, com bolos, biscoitos, frutas, raízes diversas, as mulheres contavam que desde muito tempo elas comemoram o dia Internacional das Mulheres no primeiro domingo após o dia 08 de março. É sempre um dia de reflexão e muito aprendizado com atividades durante todo o dia. 

Foto: Comunidade Volta do Américo, Lençóis

Após o café, fomos para o salão da igreja, onde nos reunimos, atraídas por um violão e uma voz feminina que tocava e cantava músicas que me reportaram à minha juventude, como por exemplo, a música “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, e muitas outras cantadas nos movimentos sociais, que vão nos enchendo de energia e nos preparando para o acolhimento. Dona Mocinha, com sua moringa de água, um facão e uma enxada, acompanhava o ritmo ao som das ferramentas da roça, nos remetendo ao dia a dia das camponesas e camponeses desse sertão.

Ouvimos também a história das bruxas contada com muita sabedoria e conhecimento pela Gabriela, que falou do poder dos nossos quintais com suas ervas medicinais, suas plantas de cura e o quanto nós, mulheres, temos em nossa memória afetiva e ancestral esses conhecimentos passados de geração em geração.

Foto: Comunidade Volta do Américo, Lençóis

Outra observação interessante é como as mulheres, em seus quintais e com o hábito de trocas de mudas e sementes, vão melhorando geneticamente e naturalmente as plantas das quais são elas as guardiãs. Nessa roda de conversa muitas coisas foram ditas em segredo, pois é assim que somos nós, bruxas e feiticeiras.

Um delicioso almoço foi servido, com vatapá, caruru, acarajé, e tantas outras guloseimas deliciosas. Ficamos por ali, naquela conversa boa e até flores ganhamos, mas, esse símbolo, já não é o que nos motiva. O que gostamos mesmo é de escutar a juventude. Depois de um bom descanso, voltamos para nossa roda.

Na roda, mais música, mais poesia e as jovens do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, trouxeram outras reflexões, sobre terra e território. Marli trazendo o foco para o feminismo camponês e Eulália sobre o protagonismo da juventude rural. Contou-nos desse movimento tão importante que desenvolve formação com as mulheres e a juventude para enfrentarmos nosso dia a dia com direitos e dignidade.

Foto: Comunidade Volta do Américo, Lençóis

No chá da tarde, sim, tivemos um chá de comadres onde as mulheres mais velhas foram nos contando as histórias de como se formou a comunidade. Histórias de garimpo, de índios e índias, de pretos e pretas, de árvores e lugares encantados.

Em torno de todas essas atividades, as crianças brincavam, faziam algazarras e estavam presentes o tempo todo.

Um domingo de muita sororidade!

Texto: Equipe Rede Chapada Agroecológica


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